sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Educação a distância

A educação a distância, desde quando ganhou expressão no Brasil, a partir de meados da década de 1990, quando a LDB de 1996 legitimou essa modalidade de educação, vem gerando grandes discussões entre os intelectuais que se propõem a debater a educação de um modo geral.

Na década de 1990, a educação a distância, ainda sem expressividade no Brasil, resumia-se numa modalidade de educação por correspondências. A comunicação entre professores e alunos se dava por meio dos Correios, que transportavam os textos e exercícios utilizados pelos indivíduos envolvidos nessa modalidade educacional.

No entanto, com o inevitável avanço da internet, também tornou-se inevitável a migração da educação a distância para a versão on line, na qual foi possível assistir a aulas em tempo real, por meio de vídeo-aulas produzidas especificamente para um público especial, a saber, os estudantes da educação a distância.

O avanço tecnológico alavancou também o crescimento dessa nova modalidade de ensino, que passou a ser mais acessível e com um custo mais reduzido para os estudantes. Estima-se que há cinco anos atrás apenas 220 mil estudantes estudavam em aulas não presenciais, número que espantosamente cresceu para 1,2 milhões de estudantes, nesse final da primeira década do século XXI.

Sem dúvida, existe uma euforia acerca do crescimento do ensino a distância no Brasil e esse fato ocorre, a meu ver, por dois fatores que são primordiais, quando analisamos o ensino não presencial, a saber, a inserção de uma grande quantidade de pessoas na educação formal (a distância) e a necessidade mercadológica de se produzir mais um meio para gerar lucro (a educação como mercadoria).

Em uma sociedade em que se torna cada vez mais necessário qualificar-se em alguma profissão e, principalmente, ter uma profissão, qualquer oportunidade que se ofereça terá uma boa aceitação, e mais do que isso, terá uma grande procura. Assim, oferta-se uma mercadoria atraente e sempre existirá alguém pronto para comprá-la. A circulação de ideias, e dentre estas, a de que é necessário ter um diploma de ensino superior para se conseguir um bom emprego e uma (in)certa estabilidade profissional e financeira, gera uma grande procura por uma modalidade de ensino que é acessível àqueles que dificilmente se veem num curso superior presencial. Em um país onde a educação básica, fundamental e média não dá conta do desenvolvimento humano e intelectual dos indivíduos, a educação à distância, enquanto modalidade de ensino superior de fácil acesso se torna a primeira e talvez a única opção de estar entre aqueles que compõem a pequena parcela da sociedade que possui um diploma do ensino superior. Nesse sentido, corre-se o risco de deixar de lado o debate pelo aumento do número de vagas no ensino superior público e aceitar o ensino a distância sem questioná-lo, porque essa modalidade de ensino responde à necessidade imediata daqueles que querem cursar o ensino superior, mas que não conseguem entrar pela via excludente chamada vestibular.

Dentre os vários discursos que foram desenvolvidos para defender o ensino a distância, destaca-se aquele que estabelece uma comparação entre o Brasil e os países economicamente desenvolvidos, onde, segundo algumas pessoas, a educação a distância deu certo. Nesse caso, há um consenso de que o Brasil é diferente desses países no aspecto econômico, pois se trata de uma economia em desenvolvimento. Entretanto, quando o assunto é educação, tudo parece muito igual, para não dizer idêntico, uma vez que querem reproduzir por aqui um modelo de educação que pode ter dado certo nesses países desenvolvidos, mas que pode não dar certo no Brasil, dadas as grandes diferenças existentes entre essas nações.

Se economicamente o Brasil, até pouco tempo atrás, era considerado um país de terceiro mundo, também o era na questão educacional (nessa questão ainda é), e portanto, é necessário estabelecer uma diferença nas condições em que esse modelo foi desenvolvido “lá fora” e em quais será desenvolvido aqui no Brasil e, principalmente, qual era a finalidade da educação a distância nos países desenvolvidos e qual é a finalidade aqui no Brasil. Ora, se economicamente existe disparidades entre o Brasil e os chamados países do primeiro mundo, todas as demais partes da sociedade (o sistema educacional é uma delas) acompanham essa disparidade. Assim, o discurso lógico que existe em torno da educação a distância, afirmando que se deu certo “lá fora” dará certo aqui no Brasil é descontextualizado e dissemina uma idéia rasteira acerca da complexidade que existe em acerca do ensino não presencial.

Embora acredite que a educação a distância tenha mais pontos negativos que positivos, é preciso reconhecer que essa modalidade de ensino é importante para possibilitar a inclusão de pessoas que vivem em regiões longínquas e que dificilmente teriam acesso a um determinado conhecimento sistematizado se não fosse por meio da educação a distância. No entanto, esse pensamento não pode pautar todas as ações acerca do ensino não presencial. Existem regiões onde há universidades e faculdades públicas e privadas, mas que co-existem, nesse mesmo espaço, o ensino não presencial. Assim, o discurso do ensino a distância como meio de inclusão já não serve para esse contexto, e infelizmente, acaba se sobrepondo à complexidade que envolve o problema relacionado ao número reduzido de vagas no ensino superior público no Brasil. E de modo algum, o ensino a distância é a melhor maneira para transformar essa realidade.

Em contraponto à educação a distância, temos a educação presencial que se resume no ensino em que aluno e professor compartilham o espaço da sala de aula diariamente e no qual o professor atua como mediador entre o conhecimento científico e os saberes que o aluno já domina, oriundos de sua (com)vivência social. A educação formal presencial é defendida pela grande maioria dos intelectuais que se propõem a discutir educação e ensino, pois é nesse modelo que os estímulos e as possibilidades para o aprendizado ocorrem ou deveriam ocorrer com mais eficácia. Sem cair no erro de generalizar e dizer que o ensino presencial é totalmente eficaz e que o ensino a distância não oferece boas condições para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra com qualidade, prefiro optar pelo ensino presencial e discutir e apresentar soluções para a superação de seus principais problemas. A educação não presencial é necessária para algumas situações (como a já apontada acima), mas da maneira como vem sendo tratada, temo o perigoso juízo de que ela pode, a qualquer momento e em qualquer lugar, substituir a educação presencial.

Alex Dancini

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Personalidade da globalização


Lula está entre as 100 principais personalidades mundiais de 2009. Por onde passa, a euforia toma conta dos representantes políticos que o recebem. Lula é atualmente um dos maiores representantes do capital em todo o mundo e com suas medidas que agrada a Gregos e Troianos tem uma aceitação invejável em seu país e principalmente fora dele.

A atitude revolucionária que deve pautar as ações da esquerda revolucionária do século XXI muitas vezes se confunde com os ideais da social democracia desde há muito criticada por Marx e Engels. Com medidas reformistas ao invés de revolucionárias, o governo Lula constitui um quadro político de coalizão, entre partidos de direita e de esquerda, a grosso modo, os representantes do capital e os do proletariado. De um lado ajuda-se os banqueiros e os monopólios com o despejo de dinheiro do Estado nessas instituições, e de outro ajuda-se os trabalhadores que se encontram em situações deploráveis, por meio de programas sociais. Caminham lado a lado, portanto, as duas extremidades desse modelo de sociedade injusto e perverso, o qual nos leva a um caminho um tanto quanto certo, a saber, à degradação das relações humanas, à destruição sem limites da natureza, numa palavra, nos leva à sociedade da barbárie.

As crises do sistema capitalista sempre trouxeram preocupações tanto para os donos do capital quanto para a classe trabalhadora, mas deixaram as piores marcas nos trabalhadores de todo o mundo. Na crise que o capitalismo está atravessando, embora muitos economistas afirmem já estarmos no final dela, não é diferente. Milhares de trabalhadores perderam seus empregos, e aqueles que continuaram trabalhando tiveram seus salários reduzidos. Demissões em massa por toda a parte do mundo colocaram trabalhadores no olho da rua com a perspectiva de um futuro totalmente incerto e numa trágica situação econômica. Por outro lado, as corporações que viram suas reservas fiscais se esgotarem a atingiram altos déficits na balança comercial tiveram uma providencial ajuda do Estado. O Estado que antes deveria ser mínimo, agora necessita obter autonomia para oferecer as devidas seguranças ao modo de produção capitalista.

O que ocorreu no Brasil não difere em quase nada do resto do mundo. O governo federal adotou medidas de emergência para socorrer o mercado e em nome da super proteção do capital baixou os juros, reduziu os impostos de alguns produtos e mandou o povo às compras. Tudo isso para salvar o mercado de uma recessão maior do que as que não paravam de surgir no mundo globalizado. Sem contar as aquisições de bancos e corporações que foram à bancarrota, mas livraram-se do fiasco com dinheiro público e continuaram comandando seus negócios como se nada tivesse acontecido.

Do outro lado da rua, empresas cumpriam demissões em massa, quatro mil, cinco mil trabalhadores demitidos, sem saber o que fazer e sem ninguém para socorrê-los. Nem sindicatos, nem Estado, nem governo Lula. E a marolinha passava como que um Tsunami pela vida de milhares de trabalhadores.

Mas para o resto do mundo o Brasil é o país do futuro e a economia brasileira comporta-se como nenhuma outra frente a tão grave crise. A direita brasileira odeia o Lula não porque ele realizou programas sociais jamais vistos na história desse país, mas porque o filho do Brasil se comportou como um verdadeiro guardião do capital e de uma forma tão sagaz que nem os mais audaciosos neoliberais acreditavam. Imaginem os revolucionários.

Que a revolução não acontecerá da noite para o dia está mais que claro, infelizmente. Mas podemos e temos de ter a mesma clareza para diferenciar ações reformistas de ações revolucionárias. O governo Lula é reformista e contribui para a manutenção do modo de produção capitalista, no qual, como já disse em outro momento, poderemos ter a diminuição dos miseráveis, mas sempre teremos a existência dos pobres para produzir riqueza aos expropriadores do trabalho humano.

Desse modo, seria inusitado que tivéssemos um Hugo Chávez, um Evo Morales, um Rafael Corrêa entre as 100 personalidades do planeta terra. O capitalismo mundial precisa do Brasil, do Brasil do Lula conciliador, que tenta conciliar capital e trabalho no modo de produção capitalista. O Brasil é estratégico para a ONU, por exemplo. Isso é motivo de orgulho para os revolucionários? A potência capitalista que hora se anuncia na América Latina é orgulho para os revolucionários? Dizer que os pobres estão comprando mais, sabendo que essa é uma estratégica básica para o escape da crise e aplaudir tal acontecimento é orgulho para os revolucionários? Socialistas ou Social-democratas?

Alex Dancini