segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Personalidade da globalização


Lula está entre as 100 principais personalidades mundiais de 2009. Por onde passa, a euforia toma conta dos representantes políticos que o recebem. Lula é atualmente um dos maiores representantes do capital em todo o mundo e com suas medidas que agrada a Gregos e Troianos tem uma aceitação invejável em seu país e principalmente fora dele.

A atitude revolucionária que deve pautar as ações da esquerda revolucionária do século XXI muitas vezes se confunde com os ideais da social democracia desde há muito criticada por Marx e Engels. Com medidas reformistas ao invés de revolucionárias, o governo Lula constitui um quadro político de coalizão, entre partidos de direita e de esquerda, a grosso modo, os representantes do capital e os do proletariado. De um lado ajuda-se os banqueiros e os monopólios com o despejo de dinheiro do Estado nessas instituições, e de outro ajuda-se os trabalhadores que se encontram em situações deploráveis, por meio de programas sociais. Caminham lado a lado, portanto, as duas extremidades desse modelo de sociedade injusto e perverso, o qual nos leva a um caminho um tanto quanto certo, a saber, à degradação das relações humanas, à destruição sem limites da natureza, numa palavra, nos leva à sociedade da barbárie.

As crises do sistema capitalista sempre trouxeram preocupações tanto para os donos do capital quanto para a classe trabalhadora, mas deixaram as piores marcas nos trabalhadores de todo o mundo. Na crise que o capitalismo está atravessando, embora muitos economistas afirmem já estarmos no final dela, não é diferente. Milhares de trabalhadores perderam seus empregos, e aqueles que continuaram trabalhando tiveram seus salários reduzidos. Demissões em massa por toda a parte do mundo colocaram trabalhadores no olho da rua com a perspectiva de um futuro totalmente incerto e numa trágica situação econômica. Por outro lado, as corporações que viram suas reservas fiscais se esgotarem a atingiram altos déficits na balança comercial tiveram uma providencial ajuda do Estado. O Estado que antes deveria ser mínimo, agora necessita obter autonomia para oferecer as devidas seguranças ao modo de produção capitalista.

O que ocorreu no Brasil não difere em quase nada do resto do mundo. O governo federal adotou medidas de emergência para socorrer o mercado e em nome da super proteção do capital baixou os juros, reduziu os impostos de alguns produtos e mandou o povo às compras. Tudo isso para salvar o mercado de uma recessão maior do que as que não paravam de surgir no mundo globalizado. Sem contar as aquisições de bancos e corporações que foram à bancarrota, mas livraram-se do fiasco com dinheiro público e continuaram comandando seus negócios como se nada tivesse acontecido.

Do outro lado da rua, empresas cumpriam demissões em massa, quatro mil, cinco mil trabalhadores demitidos, sem saber o que fazer e sem ninguém para socorrê-los. Nem sindicatos, nem Estado, nem governo Lula. E a marolinha passava como que um Tsunami pela vida de milhares de trabalhadores.

Mas para o resto do mundo o Brasil é o país do futuro e a economia brasileira comporta-se como nenhuma outra frente a tão grave crise. A direita brasileira odeia o Lula não porque ele realizou programas sociais jamais vistos na história desse país, mas porque o filho do Brasil se comportou como um verdadeiro guardião do capital e de uma forma tão sagaz que nem os mais audaciosos neoliberais acreditavam. Imaginem os revolucionários.

Que a revolução não acontecerá da noite para o dia está mais que claro, infelizmente. Mas podemos e temos de ter a mesma clareza para diferenciar ações reformistas de ações revolucionárias. O governo Lula é reformista e contribui para a manutenção do modo de produção capitalista, no qual, como já disse em outro momento, poderemos ter a diminuição dos miseráveis, mas sempre teremos a existência dos pobres para produzir riqueza aos expropriadores do trabalho humano.

Desse modo, seria inusitado que tivéssemos um Hugo Chávez, um Evo Morales, um Rafael Corrêa entre as 100 personalidades do planeta terra. O capitalismo mundial precisa do Brasil, do Brasil do Lula conciliador, que tenta conciliar capital e trabalho no modo de produção capitalista. O Brasil é estratégico para a ONU, por exemplo. Isso é motivo de orgulho para os revolucionários? A potência capitalista que hora se anuncia na América Latina é orgulho para os revolucionários? Dizer que os pobres estão comprando mais, sabendo que essa é uma estratégica básica para o escape da crise e aplaudir tal acontecimento é orgulho para os revolucionários? Socialistas ou Social-democratas?

Alex Dancini