quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Um compromisso, uma luta intensa.

Publico abaixo, o texto lido aos participantes da colação de grau dos cursos de Letras, Geografia, Pedagogia, Matemática e Turismo e Meio Ambiente, da FECILCAM.


O dia 04 de fevereiro de 2010 certamente ficará na memória daqueles que por quatro anos ou mais ocuparam uma cadeira do ensino superior da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão, seja qual for o curso. A FECILCAM transformou-se na segunda casa de todos nós. Formamos ali uma segunda família, um círculo de amizades que nos ajudou a enfrentar as mais difíceis jornadas. Quem aqui não se lembra de ter chorado alguma vez pelos corredores da FECILCAM e de repente aparecer um ombro amigo para lhe confortar e lhe oferecer o colo que colhe a gota de uma lágrima. Mas também teve aquele abraço de felicidade, de felicitar o amigo pela aprovação em mais um ano, pela boa nota alcançada no final do bimestre... enfim...pelo sorriso que o outro trazia no rosto.

Assim o tempo passou, a roda da história andou e para traz ficou aquilo que poderíamos ter feito de modo diferente. Não é possível voltar. Ficou também o professor ou a professora que gostaríamos que nos acompanhasse pelas próximas jornadas. Não é possível levá-lo conosco. Ficou para traz aquela pessoa que não a conhecíamos antes de adentrarmos à faculdade e que de tão especial que ela se tornou, gostaríamos de levá-la conosco, mas não é possível. Os levaremos no coração e ficaremos na expectativa de que as circunstâncias da vida não nos afastem mais do que já estamos agora. Caros colegas, autoridades e familiares, por que, muitas vezes,3 não damos a devida importância para as relações sociais no dia-a-dia? Damos a devida importância que as relações entre os seres humanos merece, apenas quando chega o último dia.

O espaço acadêmico proporciona uma convivência intensa e bonita entre indivíduos. Mas também proporciona o contato com algo que para muitos de nós estava muito distante: o conhecimento científico. Como diria Mauro Iasi, numa poesia:
“O conhecimento caminha feito lagarta...primeiro não sabe que sabe...e voraz contenta-se com o cotidiano orvalho...deixado nas folhas vividas das manhãs”. E assim éramos nós, atentos a tudo, mas inseguros se sabíamos ou não o que havíamos estudado e incertos se estávamos realmente aprendendo. Continua Mauro Iasi: “Depois [o conhecimento] pensa que sabe...e se fecha em si mesmo...faz muralhas...cava trincheiras...ergue barricadas...defendendo o que pensa saber...levanta certezas na forma de muro...orgulhando-se de seu casulo”.
E assim éramos nós, certos de que estávamos sempre com a razão e que detínhamos o saber que nos tornava, talvez, diferentes daqueles que ali não estavam, nunca estiveram e, possivelmente, nunca estarão. Triste Ilusão. Mas num certo momento, o conhecimento atinge uma maturidade...e continua Mauro Iasi: “até que maduro...[o conhecimento] explode em vôos...rindo do tempo que imagina saber...ou guardava preso o que sabia...voa alto sua ousadia...reconhecendo o suor dos séculos...no orvalho de cada dia...mesmo o vôo mais belo...descobre um dia não ser eterno...É tempo de acasalar...voltar à terra com seus ovos...à espera de novas e prosaicas lagartas...O conhecimento é assim...ri de si mesmo e de suas certezas...é meta de forma, metamorfose/movimento, fluir do tempo...que tanto cria como arrasa...a nos mostrar que para o vôo é preciso tanto o casulo  como a asa”. (Aula de vôo, Mauro Iasi)
Caros colegas formandos, familiares e autoridades, vivemos na chamada “sociedade do conhecimento”. No entanto, a maioria da população brasileira, para não dizer mundial, está totalmente excluída de freqüentar um importante espaço de produção de novos conhecimentos e de valorização do conhecimento que a humanidade já produziu e que hoje nos é caro. O Ensino superior está de portas abertas para poucos. Fecha-se à classe trabalhadora. Somos exceções porque vivemos numa região extremamente pobre e aqui os filhos dos trabalhadores ainda conseguem um espaço no Ensino Superior Público. E esta realidade se arrasta pela história desta sociedade capitalista individualista e predadora que impregnou a consciência das pessoas com o pensamento meritocrático. A solidariedade deixou de existir nas ações dos seres humanos e passou a existir apenas no mundo das idéias. Assim, esperamos que o mundo seja solidário, mas nós, que somos sujeitos históricos desse mesmo mundo, muitas vezes não somos solidários com os seres humanos que nos circundam.
E a escola está impregnada da falta de solidariedade. Seja entre os professores, seja entre os estudantes. Caros colegas, possivelmente neste ano ou num futuro próximo, estaremos dentro de uma sala de aula, trabalhando como educadores e presenciaremos uma realidade já conhecida por muitos aqui, uma realidade que requer trabalho intenso e a reflexão de que os problemas existentes hoje na escola são históricos. Portanto, caros colegas formandos, não há curso de motivação que dê jeito neste sistema educacional, pois tenta-se tratar aquilo que nos é aparente e se esquece de agir na essência do problema . A educação e a escola que queremos só acontecerá com a luta daqueles que dela fazem parte, a luta que move a roda da história. E para não pararmos no tempo e ficarmos alheios ao movimento histórico do qual fazemos parte é preciso persistir e jamais para de estudar...mesmo que não seja o estudo formal, pois estudo “é a aplicação do espírito para aprender”, aprender, mesmo que seja qualquer coisa, desde que qualquer coisa nos torne seres humanos mais solidários e mais sensíveis à vida.
Para terminar: 
"Os jovens... e eu me vejo como um... nós precisamos estudar e estudar pesado. Nós não devemos dizer que meus olhos ardem ou que eu não gosto de ler, que eu fico cansado, que não há óculos, que eu tenho muita vigia, que as crianças não me deixam dormir... todas essas coisas que as pessoas levantam. Nós precisamos estudar por todos os meios." (Ernesto Guevara de La Serna)

Obrigado!

Alex Dancini