É sempre muito bom visitar os companheiros do acampamento irmã Dorothy Stang, de Barbosa Ferraz. Em primeiro lugar porque o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é um movimento social que luta para transformar a estrutura do modelo agrário hoje existente no Brasil, e na esteira dessa luta, pauta também a transformação do modo de produção da vida humana de modo geral, ou seja, a superação do modo de produção capitalista. Em segundo, mas não menos importante, porque vejo no rosto cansado daqueles trabalhadores, o rosto de meu pai; e no rosto cansado daquelas trabalhadoras, o de minha mãe. Lembro-me dos tempos difíceis da Bóia-fria. Meu pai carpinava uma "rua" de café a voltava para ajudar-me, já que eu não conseguia acompanhar os adultos. Meu pai trabalhava por nós dois. Não acredito em heróis, acredito em meu pai.
Tenho para mim que a intelectualidade cada vez mais humaniza o homem. Não refiro-me à intelectualidade submissa ao mercado e à imediaticidade de um certificado. Muito menos àquela relacionada às caixinhas do conhecimento científico (tenho curso superior, logo, sou intelectual). Refiro-me à intelectualidade que talvez demora a fazer parte do ser, mas quando passa a constituí-lo faz toda a diferença. Para mim, intelectualidade é perceber no humano a perfeição de um ser que por si só merece se desenvolver em sua plenitude, em sua integralidade. Nesse caso, o conhecimento científico, é bem verdade, tem papel fundamental, mas não é condição essencial. É preciso mais que ciência. Antes de tudo é necessário reconhecer-se humano, preceber que devemos nos importar com a vida humana, e rechaçar qualquer ideia que tome o homem como coisa, mero objeto descartável. Na sociedade do consumo, o intelecto parece estar programado para o consumo, mesmo que seja de seres humanos, considerados por essa mesma sociedade como coisas.
Falta humanismo, sensibilidade. Perceber o outro.
Fiz questão de tirar uma foto com algumas crianças do acampamento porque acredito nas crianças, embora tenham pela frente uma dura jornada de des-humanização na escola, no trabalho e na sociedade de modo geral.
Alex Dancini