sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Resposta ao professor Maybuk

Dia desses, escrevi uma crítica direcionada ao Jornalista Paulo Henrique Amorim que, numa determinada ocasião, exaltava a medida do governo Lula de dar oportunidade aos beneficiários do Bolsa Família de abrirem uma conta corrente na Caixa Econômica Federal, e dizia ainda, que essa medida caracterizava-se como uma inclusão social. O professor Maybuk escreveu um texto em resposta ao meu, e abaixo vai, então, a minha resposta ao texto do caro professor Maybuk.


Caro colega Maybuk, as emissoras de TV, os jornais impressos e as revistas que fazem parte do PIG duelam entre si por maior lucratividade, quanto ao discurso, não vejo diferença alguma. O caso da ocupação do MST e a derrubada dos pés de laranja é um exemplo disso, já que não se percebeu diferença alguma nas notícias veiculadas por esses meios de comunicação, todos adotaram o mesmo discurso, que é, por sinal, o discurso de sempre, quando está em pauta o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Para mim, como disse anteriormente, ou é ou não é.

Imaginemos, então, que a Record seja uma emissora que se caracteriza por fazer críticas “mais amenas” aos movimentos sociais e às políticas bolivarianas da América Latina, podemos, portanto, dizer que a Record é uma emissora que fica “em cima do muro”, que ela é neutra, etc. Ao assumir um tom mais brando, uma postura neutra, a emissora do Edir Macedo já se decidiu de que lado está e posso afirmar, categoricamente, que ela não está ao nosso lado.

Aí você diz:
 “O fato de um beneficiário do Bolsa Família ter uma conta corrente no banco e acesso a crédito é inclusão social sim, pois eu tenho conta em banco desde os 18 anos e atualmente, ganho razoavelmente bem e acesso a crédito no momento que quiser em bancos e lojas o que torna minha vida mais tranqüila”. Maybuk, em primeiro lugar, o acesso à conta corrente por um beneficiário do Bolsa Família pode até ser inclusão (o que eu acho que não é), mas o que isso tem a ver com o fato de você ter uma conta corrente e obter créditos facilmente? Como você mesmo disse, você ganha razoavelmente bem e tem condições objetivas que lhe são extremamente favoráveis no momento de obter um crédito e, no limite, para custear os encargos administrativos que uma conta corrente geram todo mês. Se o sujeito recebe o Bolsa Família é sinal de que ele não tem emprego com carteira assinada e que sua renda mensal é inferior a meio salário mínimo. Que diferença faz esse sujeito ter ou não conta em banco? Daqui a uns três anos teremos um monte de inadimplentes (como eu) com a Caixa Econômica Federal, por conta dessa medida. Nesse caso sou adepto daquele ditado popular, que por sinal não me lembro muito bem, “criança que nunca comeu chocolate, quando come pela primeira vez se lambuza”. Na ordem do dia, portanto, da história, não vejo significado nenhum para a luta de classes nessa medida, a não ser a manutenção dessa luta.

Bom, quanto à melhoria na qualidade de vida das pessoas mais pobres, podemos afirmar que a qualidade de vida da população mais pobre melhorou. Essa afirmação é verdadeira se considerarmos que no governo Lula existem menos pessoas passando fome que nos anos anteriores ao seu governo. No entanto, Lula é o presidente dos pobres, mas é também o presidente dos banqueiros, dos monopólios. Faz uma reforminha aqui outra ali e vai levando. Na outra ponta, ajuda os acumuladores de capital aqui, ajusta a balança comercial ali, e vai transformando o Brasil numa potência mundial. E, diga-se de passagem, numa potência capitalista. Ficamos efervescentes por conta de o Brasil ter uma economia sólida, característica fundamental para que esta nação se torne uma potência do mundo capitalista, assim como a China o é.

O que é a China hoje? Uma grande potência não? Será que os trabalhadores de lá se apropriaram, mesmo que em pequena escala, da riqueza produzida por aquela nação? Não. E isso simplesmente porque enquanto imaginarmos grandes potências capitalistas, teremos que, concomitantemente, imaginar a exploração e alienação da classe trabalhadora. Teremos que imaginar a existência do Bolsa Família, teremos que imaginar a existência do trabalho escravo, da concentração de terras. Os países ricos podem não ter o mesmo número de miseráveis que os países pobres, mas têm um amplo número de pobres que mantêm a pequena casta burguesa. E é isso que estamos produzindo no Brasil. Os beneficiários do Bolsa Família de hoje serão os trabalhadores explorados de amanhã, se tiverem “sorte”.

Já passou da hora de o Lula parar de fazer campanha com o Bolsa família, e dar nome aos bois. O Lula está aonde, na ordem do dia? No centro, na esquerda, na direita? Em cima do muro? Ninguém sabe.

Acredito que se o Brasil tivesse tido nesses últimos 8 anos um governo assumidamente de direita, teríamos avançado no processo revolucionário. O marasmo, para a luta, é uma desgraça.

Caro Maybuk, espero que continuemos com esse debate. Também o respeito, e as críticas aqui estão no plano do conhecimento, das idéias. Não há nada de pessoal, cara.