terça-feira, 6 de julho de 2010

COPA DO MUNDO E NACIONALISMO


Me parece salutar discorrer algumas linhas para registrar o exacerbado patriotismo mostrado pelos brasileiros durante o mundial da África do Sul.

O nacionalismo dos brasileiros fortemente ligado à seleção brasileira de futebol é motivo de duras críticas feitas pelos críticos de plantão, trata-se de professores, jornalistas, um ou outro político, dentre outros. Essa crítica a qual me refiro tem sua razão de existir, no entanto, erra-se o alvo. Nas palavras da maioria desses críticos percebe-se que o cidadão brasileiro só segura a bandeira do país, símbolo máximo da nação, em época de copa do mundo. Este é o principal motivo que suscita a crítica. Dizem eles que o brasileiro deveria ser nacionalista, patriota em todo o tempo, não apenas durante a copa do mundo.

Ora, fico me perguntando quais os motivos que o brasileiro tem para ser patriota. Os críticos sempre usam o exemplo dos americanos e dizem que lá (nos EUA) os cidadãos amam e defendem o seu país. Muito bem, os EUA representam o império da sociedade capitalista, dominam o restante da humanidade, e seus cidadãos se orgulham disso e ostentam esse respeito. Outros exemplos utilizados são dos cidadãos franceses, espanhóis e inlgeses. Nota-se que todos esses países em algum período da história colonizaram dezenas de povos, mataram homens, mulheres e crianças, escravizaram, e assim, constituíram-se como nações fortes e soberanas em algum momento. Desse modo, a própria cultura popular, ou seja, a educação que não requer o conhecimento da escola formal, já educa o cidadão como alguém que faz parte de uma nação que foi dominadora, que tem sua língua falada em outros países, que tem artistas plásticos reverenciados em todo o mundo, etc. Para os cidadãos desses países, por exemplo, o futebol é, às vezes, algo a mais no dia-a-dia. A copa do mundo, para esse países, é um evento esportivo importante que requer bandeiras e o cantar do hino nacional, mas de modo algum a seleção de futebol é algo que mereça ser reverenciado, pois existem heróis históricos, com feitos históricos grandiosos que ocupam esse lugar.

E no Brasil? O Brasil é conhecido mundialmente por ser o melhor no futebol. O protagonismo histórico do Brasil no mundo e dentro do próprio país ainda é o fato de ser penta campeão mundial. O brasileiro se enche de orgulho justamente no momento em que se celebra o maior evento do futebol em todo o mundo. É aí que aflora seu nacionalismo, e é nesse momento que ele mais mostra seu amor à pátria.

Que mal existe nisso para ser tão criticado. O fator decisivo nesse fato é cultural e histórico, portanto, se queremos mostrar nossa criticidade, que sejamos no mínimo coerentes e analisemos o fenômeno em sua raíz. O brasileiro sente a falta de feitos históricos que tenham o Brasil como protagonista, de referência humana que possa despertar o respeito e a admiração. O Brasil como país colonizado teve vários homens e mulheres que lutaram contra o massacre humano desde há muito realizado por aqui, e que merecem ser admirados, mas muitos de nossos professores, por exemplo, não os conhecem, e se conhecem, os tratam como meros bonecos da História. Na escola, lugar onde se deveria conhecer esses indivíduos que fizeram parte da história de exploração do Brasil pelos países europeus e os EUA, não se conhece. Antônio Conselheiro, por exemplo, um resistente e bravo lutador, defensor do brasileiro expropriado, é assunto de umas três aulas de  História. Depois disso, ninguém mais houve falar seu nome.
Apenas para se comparar, a torcida da seleção argentina , nos jogos de sua seleção na copa do  mundo, exibe ao lado da bandeira do seu país uma bandeira com a figura de Che Guevara - e de quebra, presenteiam Nelson Mandela também com uma bandeira. E a torcida do Brasil, exibe o quê?

Querem que o brasileiro, além da seleção brasileira, se orgulhe de quê, de quem? Ela nem homenageia os africanos que lutaram contra algum tipo de opressão e preconceito, como é o caso de Nelson Mandela. As figuras que os brasileiros fazem questão de exibir são a do Pelé, a do Ronaldo (fenômeno), Ronaldinho Gaúcho, etc. Isso é culpa do trabalhador brasileiro? E toda a propaganda que é feita sobre essas mercadorias a pouco citadas?
Os brasileiros aprendem desde crianças tudo sobre futebol, e nada sobre literatura e História. Querem que os brasileiros sejam patriotas de que maneira? Os brasileiros são patriotas como qualquer cidadão estadunidense, inglês, espanhol, etc., mas manifestam esse sentimento de uma forma diferente e por algo talvez banal se comparado aos feitos históricos sejam de dominação ou de resistência. Mas a pergunta que fica é: Queremos "tirar leite de pedra"?

O problema não é O brasileiro. O problema é histórico. Nada mais positivista que criticar o trabalhador que sai com uma bandeira pendurada em sua bicicleta, torcendo para o Brasil. Ele está certo. Às vezes, esse é um dos poucos momentos em que ele se sente brasileiro, feliz, parte de uma nação.
Voltando aos exemplos que muitos professores usam e exaltam como cidadãos defensores de sua pátria, poder-se-ia falar dos cidadãos cubanos, dos irarianos, dos argentinos. E, além disso, explicar o porquê são nacionalistas, patriotas.
 
Alex Dancini

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