sábado, 17 de julho de 2010

Um pouco de Galeano

Ler Eduardo Galeano é viajar pelo continente americano sem sair do lugar. Seja uma obra com característica mais teórica como é o caso de “As veias abertas da América Latina”, ou uma obra que reúne contos, poemas em prosa e relatos de sua vida, percorrendo a América Latina, escondendo-se das torturas da ditadura como é o caso de “Dias e Noites de Amor e de Guerra”.
 A primeira obra acima citada mostra-nos a história de uma América assaltada, escravizada. Tomada do povo que tão bem cuidou destas terras e que não tinha outro objetivo senão cultivá-la numa relação de divinização. A história de colonização e exploração da América Latina pelos europeus num primeiro momento, e depois pelos Estados Unidos, perde-se no eco das perfurações em busca de prata na Ilha de Potosí, na Bolívia. E está presa também no silêncio dos oito milhões de cadáveres de índios da sociedade potosiana, que morreram para sustentar o desenvolvimento econômico europeu e estadunidense. Apenas para citar um minúsculo exemplo da devastação natural e humana aqui deixada pelos invasores.
A herança deixada pelos nobres colonizadores, como assim os tratam inúmeros nobres professores de história, foi o esgotamento de riquezas naturais como o ouro, a prata e o diamante; o atraso econômico; a subserviência à hegemonia capitalista; e a miséria, na qual vivem milhões de latinos americanos que pouco se diferem dos índios domesticados, quando da colonização, que segundo Galeano, “comiam as sobras da comida do cachorro, com quem dormiam lado a lado”. Pouco mudou. Ainda segundo Galeano, “até hoje, podem ver-se, por todo altiplano, carregadores aimarás e quéchuas, levando fardos até os dentes em troca de um pão duro”.
A pobreza latina americana ao menos encanta os turistas, em sua maioria latinos também, que “adoram fotografar os indígenas no altiplano vestidos com suas roupas típicas”, ou mesmo fechar os olhos à pobreza paraguaia, se o que mais importante é que nesse país podemos nos sentir sujeitos tipicamente pós-modernos com “poder de compra”. Após tirar fotos e comprar mercadorias, jamais podemos deixar de saudar a Virgem de Guadalupe. Afinal, estamos no continente que reúne o maior número de cristãos do mundo, e a pobreza do povo paraguaio alivia-nos a alma.
“Dias e Noites de Amor e de Guerra” é uma viagem pelos países latinos a bordo da imaginação e da memória de Eduardo Galeano, que resolveu reunir num livro, as histórias por ele vividas nos anos de chumbo deste continente. As ditaduras militares, nos países em que tal regime foi instalado, forraram o fundo do mar com cadáveres de homens e mulheres inconformados com a injustiça social e com a nossa dependência econômica e política dos Estados Unidos.  Elas faziam brotar das águas dos rios o perfume de uma vida rebelde ceifada da pior maneira possível. Levaram-nos operários, jornalistas e artistas. Sempre nos tomaram o que de melhor existiu por essas bandas. Ainda continuam tomando, roubando, expropriando quem não tem mais o que oferecer a não ser a liberdade, a sua humanidade.

Um comentário:

  1. Muito bom o texto companheiro.
    Gostei.
    Parabéns.

    Anderson Marcondes

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